sábado, 27 de setembro de 2008

Uma noite no Village Vanguard.

O típico jazz bar americano. Escuro, paredes em verde-musgo - quando possível vê-las atrás das fotos e dos registros das lendas de jazz que ali já tocaram. Hank Mobley, John Coltrane, Miles Davis, o trio do Bill Evans, as grandes lendas que continuam hoje, tanto tempo depois, a ditar as regras e os ritmos a serem seguidos. Dentre os discos lançados, invarialmente se encontra um chamado: "Live at the Vanguard". Tal é a aurea dessa casa.

Uma enorme tuba dourada pendurada na parede completa a decoração.

“No reservation, you can pick a two person table in the end or sit at the bar!” Optei pela mesa de duas pessoas, apesar de ser no bar que ocorrem as típicas noites cinematográficas em um club americano, com direito a cantada e “one night stand.”

O palco fica ao fundo. Um quadrado na parede onde se encaixa perfeitamente uma bateria, um baixo, e, no máximo, mais duas pessoas. Em profundidade, o palco aparenta ser um triangular, talvez daí a razão da perfeita acústica. A garçonete passa: “excuse-me”. Os demais expectadores chegam aos poucos. Expectativa. O meu primeiro show de jazz, logo no berço do jazz americano. O show está previsto para começar às 21:00. São 20:20. O barulho ambiente é de conversas altas e agradáveis. Ao fundo, toca um jazz para aclimatar os que chegam.

Chamo a garçonete, que me diz: “Your waitress will be with you in a second!” Odeio esses lugares, em que os garçons empurram o cliente um para o outro sempre com o receio de atender o cliente alheio. Se você é cliente, você o é do restaurante, não de determinado garçon. Deviam todos servir o cliente que lhe tem demanda. Enfim, a garçonete veio. Uma espécie de Elza Soares americana. Ruiva, com os cabelos para o alto e um pouco dissimulada. Simpática. Trouxe meu vinho. Sob nossos pés, passa o metrô que treme todo o ambiente. O líquido no copo treme, fazendo pequenas ondas que batem na lateral do copo e volta ao meio. Entram os músicos e começa a doce e desconcertada melodia de afinação dos instrumentos. A bagunça organizada. Mas aqui, ao contrário de uma orquestra, não há espala e os instrumentos são em menor número. Nessa noite, um total de três. Piano, baixo e bateria.

O lugar não é o típico lugar turistico. A entrada fica ao final de uma escada de uns vinte degraus. Duas mulheres na minha frente falam de música. Percebendo que eu era brasileiro, comentaram sobre um show que haviam ido. Citaram João Gilberto. 3 japonesas sentaram atrás de mim. Como estão numa mesa ao fundo, presumo que igualmente não tinham uma reservation. A mesa ao lado comenta a qualidade da atração da noite, Jim Hall. Segundo o vizinho, um dos maiores jazz-guitarrist de todos os tempos, a quem, supostamente, ele escutava para aprender a tocar.

Logo na segunda música percebemos que não estava ali à toa. O diálogo de Jim Hall com seu baixista em muito lembrou a obra de Cervantes.

Na quinta música, My Funny Valentine, uma linda introdução da guitarra. O baixo entrou em seguida complementando o som da guitarra. O metrô novamente passa sob nossos pés. A essa altura, já se integra ao show e faz parte de todo o charme do lugar. Depois da composição de Chet Baker, tocou Benny Goodman, Roy Rogers, e, em uma quase homenagem especial, o nosso brasileiro Nelson Cavaquinho, com sua Beija-Flor. Fechou com chave de ouro. Encerrou-se a noite. Para ir embora: o Metrô!

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