quinta-feira, 11 de junho de 2009

Geração Bossa Nova

Assisti ontem a Tom e Vinicius, peça/musical sobre a amizade de dois poetas, músicos, ícones da cultura brasileira. Muito embora retrate uma época que não era a minha, nem nunca foi, há um clima de saudosismo no ar. Uma época despreocupada com o viver, com as cobranças da vida, e uma despretenciosidade das relações de fazer inveja até aos mais despreocupados dos jovens. Época de meu pai.

Não há como não lembrar-me dele, hoje falecido há 11 anos, ao escutar o ânimo, a troca de palavras, e as músicas que marcaram sua infância/adolescencia. O jogar futebol no Dínamo de Copacabana, passando a arrebentação do Posto 5, paquerar nos botequins, podendo falar grancinhas e sorrisos sem causar espanto, uma certa malandragem, mas não a dos dias atuais, muito atrelada à roubo e ao passar pra trás, mas mais ligada à música do Chico, do malandro trabalhador, chacoalhando no trem da Central. Uma malandragem do jogo de cintura, à leveza do ser, à que a vida vai dar certo mesmo quando não dá.

Por coincidência, hoje, ainda saudosista da geração Bossa Nova, fui ao cartório retirar a minha certidão de nascimento, averbada para dizer que minha mãe reconheceu a minha filiação, quando do meu registro, exigência do Consulado Português para o reconhecimento de meu sangue lusitano.

Daí talvez a origem ou explicação do porquê tudo comigo tende a ser e ter um pouco mais de complexidade, uma lógica gramatical quase inversa. Em minha lógica, prevalece o sentimento e a emoção ao raciocício frio e lógico da razão e dos números, muito embora nos momentos profissionais se estenda ao outro lado uma boa dose de cinismo e de malandragem - a dos dias atuais. Um pouco de cinismo não faz mal a ninguém, dizem.

Voltando ao cartório, descobri que o inteiro teor da minha certidão de nascimento, único documento que registraria a averbação desejada, traz consigo diversos equivocos que podem por tudo por água-abaixo. O mais gritante deles é o estado civil de minha mãe: E.U.A. Estados Unidos da América. Ainda estou para conhecer este novo estado civil, mas até onde eu saiba E.U.A. não passa da sigla de um país, como BRA, FRA. Talvez represente uma personalidade: pessoa leal, mas com sentimentos frios, como poderia ser descrito um americano. Talvez até se aplicasse à minha mãe, não fosse minha mãe uma pessoa emotiva ao extremo, mais emotiva que leal até. É do tipo que tendo 10 reais para o almoço e jantar, dá 10 reais para o menino de rua que a pede por ele precisar do dinheiro mais que ela. Talvez daí sim que saia minha lógica invertida, lusitana. Mas pensei que o estado civil da minha mãe, E.U.A., represente mais que um equívoco de cartório, mas sim uma época. Época em que prevalece o jogo de cintura e o sentimento de que a vida vai dar certo mesmo quando não dá.

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